MANIFESTO CINEMA ÍCARO
EM DEFESA PELA REABERTURA DA SALA DE CINEMA ÍCARO
Do Viriato ao Ícaro
Viseu começou a sonhar em 1897, no Teatro Boa União (atual Teatro Viriato), quando o animatógrafo chegou à cidade, tendo realizado então a sua primeira sessão de cinema. Os viseenses aderiram em força à arte da imagem em movimento, que levou à criação de mais salas de cinema, com destaque para o imponente Avenida Teatro (em 1921), o Cine-Rossio (em 1952), o Cinema São Mateus (em 1984) e o Auditório Mirita Casimiro (em 1989).
Em 1994, o proprietário do São Mateus, abriu uma nova sala de cinema em Viseu, o Cinema Ícaro, nas Galerias Ícaro, o primeiro cinema dentro de um centro comercial em Viseu. O Ícaro, que dispõe de cerca de 172 lugares, abriu com a exibição do filme “Quando o Céu e a Terra Mudaram de Lugar” de Oliver Stone. O Cinema Ícaro encerrou as suas portas a 13 de fevereiro de 2005, com “O Aviador”, de Martin Scorsese. O Cinema São Mateus encerrou a 10 de agosto de 2005, com “Um Amor em África”, de John Boorman.
O Presente
Viseu dispõe hoje de dois multiplex em dois centros comerciais geridos pela NOS Audiovisuais, com 6 salas no Palácio do Gelo e outras 6 no Fórum Viseu, que, por sua vez, não oferecem uma programação independente e alternativa. Desta forma, são incapazes de refletir o que é o panorama mundial da produção cinematográfica. Viseu tem neste momento apenas uma única sala de cinema tradicional, que se encontra fechada desde 2005.
Só o Cineclube de Viseu, que ainda hoje mantém uma atividade regular e exemplar, no auditório do Instituto Português da Juventude, consegue oferecer uma alternativa cinematográfica à cidade. É de louvar o enorme trabalho do cineclube, no papel da promoção, divulgação e educação da população local.
Reivindicação do Ícaro
O Cinema Ícaro, a única sala de cinema de Viseu ainda existente, tem potencial para colmatar a lacuna de oferta cinematográfica na cidade e, se houver visão por parte dos agentes culturais da região, e por parte da Câmara de Viseu, tudo isto passará de um sonho a realidade.
Viseu precisa do Cinema Ícaro. Recuperar o Ícaro é, portanto, relevante para a cidade e para aqueles que nela habitam. O Ícaro pode ter uma nova vida através de uma programação mais voltada para o cinema independente e alternativo, sessões de exibição de clássicos do cinema mundial, assim como pela realização de festivais, mostras de cinema, criação de eventos de natureza cultural e cinematográfica. Assim, o Ícaro poderá devolver à cidade um espaço que preencha a falta de oferta no sector cinematográfico, permitindo ao público a construção do seu olhar e novas formas de pensamento crítico.
O Ícaro não tem claramente a mesma importância histórica que teve o São Mateus, o Cine-Rossio ou outras salas que existiram em Viseu. O Ícaro não é uma sala que tenha marcado uma geração de cinéfilos viseenses. É pequeno comparado com todas as outras salas, mas é um símbolo, o único, ainda vivo, representativo desse tempo passado, em que as salas de cinema tinham uma grande presença cultural na sociedade.
No entanto, hoje assiste-se à reabertura de algumas salas de cinema antigas, como é o caso do Cinema Trindade, no Porto, e o Cinema Ideal, em Lisboa. Ou seja, os cinemas estão a voltar às cidades, o público está a regressar ao cinema. As câmaras e instituições culturais estão conscientes desta realidade e do potencial cultural e económico do cinema para o desenvolvimento da cidade.
O Cinema Ícaro encontra-se no centro da cidade, nas Galerias Ícaro, e, se a sala de cinema fosse reaberta, iria certamente soprar nova vida ao centro comercial, atraindo ainda mais pessoas. A sala dispõe de 172 lugares, o que permitiria servir de auditório para múltiplos eventos, tais como concertos, conversas, performance, dança, debates, tertúlias, congressos, recitais, apresentações de livros, entre outros. O Ícaro deve ser devolvido aos viseenses e a todos os agentes culturais da cidade, de forma a dar-lhe uma vida como nunca teve e com uma programação cultural diversificada e dinâmica. Por tudo isto, reivindicamos o Cinema Ícaro como um lugar de todos. Apelamos ao Município de Viseu para que encontre, junto dos programadores, agentes, associações e locais, uma forma de preservar o espaço e devolvê-lo à cidade e à cidadania!